Estamos a aproximar do Natal. Começamos a viver a pressão dos presentes, as luzes, os encontros que não sabemos como se vão realizar, enfim…para muitas famílias esta época é vivida com algum stress e ansiedade, para outras já conseguem vivenciá-lo com mais tranquilidade e longe dos grandes centros urbanos.
Seja qual for a situação, podemos sempre acrescentar conhecimento para que os nossos filhos tenham alternativas mais saudáveis que os ajudem a vivenciar este tempo que é tão importante nas suas vidas.
Fui criada no seio de uma família tradicional cristã. Sempre celebramos o Natal em família onde um dos adultos fantasiava-se de Pai Natal e os mais pequenos (que eram muitos) abriam os presentes depois da Ceia de Natal. Cresci a acreditar no Pai Natal…
Quando conheci o método Montessori e sabendo da importância que é dada à infância, atrevi-me a procurar como celebrar o Natal e descobri uma nova forma de Ser e Estar mais genuína e com muito mais sentido.
Vamos então esclarecer alguns conceitos importantes para que consigamos perceber e quem sabe, este Natal possa ser diferente fazendo mais sentido nas vossas vidas.
Montessori ensina-nos que a fantasia e a imaginação são conceitos diferentes e que as crianças até aos seis anos não devem ser expostas à fantasia, isto porque a sua mente não é capaz de diferenciar o que é real de ficção, podendo mesmo criar confusão na construção da visão do mundo.
A partir dos seis anos e porque já está a desenvolver uma mente abstrata, podem ser as histórias muito enriquecedoras. As crianças têm já um extenso conhecimento do mundo e a capacidade de distinguir o que é real ou não.
Desta forma, Montessori não concorda que a fantasia seja imposta às crianças, valorizando a imaginação que parte da realidade de cada criança.
Imaginação nasce da mente da criança e é algo que ela cria a partir da informação real que tem. Surge da inteligência, da verdade e ultrapassa os limites da realidade. A fantasia nasce da imaginação de outra pessoa e por isso é transmitida em forma de crença e obrigação. A criança não cria, ela apenas acredita na imaginação do outro. Nas histórias, os protagonistas não são reais, personificando conceitos de beleza e do bem.
Por tudo isto, como fica o papel do Pai Natal?
Devemos dizer a verdade sobre esta personagem?
Como te sentes quando descobriste a verdade sobre o Pai Natal?
Vivemos tempos conturbados e sem algum rumo mas muitos de nós sente já a necessidade de educar de forma mais consciente e genuína e por isso não faz sentido usar o Pai Natal como aquele velhinho com barbas que trás as prendas e as coloca na chaminé porque nos portamos bem ao longo do ano.
Se a nossa comunicação é mais autêntica para que a relação com as nossas crianças seja mais verdadeira e de confiança mútua, não faz sentido mentir nesta época do ano.
A magia nunca vai desaparecer. O Pai Natal continua por aqui (ele personifica algumas ideias importantes: a bondade, generosidade, gratidão…) mas os heróis, os bons somos nós! Sim, somos nós pais, mães, tios ou avós, amigos que amam as crianças e que na verdade partilham amor, cuidado, alegria quando oferecem os presentes.
Quantos de nós condiciona a oferta das prendas consoante o comportamento da criança? A ideia do prémio: só é merecedora se teve boas notas, se teve um bom comportamento mas a criança porta-se sempre bem se ao seu redor o ambiente e os adultos estiverem preparados para acolhê-la. E ainda por cima é uma figura que oferece…
O nosso mundo é maravilhoso! É lindo! É cheio de amor, de solidariedade, não precisa de personagens fictícias para nos mostrar isso mesmo. Quando mostramos à criança esta forma de viver e sentir, ela percebe que é amada por aqueles que a rodeiam e que todos desejamos um mundo melhor.
Há quatro anos fui mãe, optamos por mostrar esta perspetiva ao nosso filho. Ao início com algum receio porque não é muito comum mas é tão maravilhosa a sua forma de estar no mundo que todos os Natais agradeço a Montessori por me ajudar na sua educação.
Continua a existir magia nesta época…quando montamos a árvore de natal e o presépio explicando o significado histórico e bíblico, ao som de músicas natalícias.
Continua a existir magia quando criamos o calendário do advento e ao longo dos dias vamos destralhando para que o Natal de outros meninos possa existir.
Existe magia nas luzes a piscar, na lareira acesa, no quentinho das pantufas, nos presentes oferecidos com muito amor.
Existe magia de Natal ao passearmos na Natureza aproveitando para apanhar elementos e decorar a casa de uma forma mais sustentável.
Existe magia quando percebemos como os outros meninos celebram o Natal, nas diferentes partes do globo, sabendo que a nossa maneira de celebrar não é a única.
Magia quando contamos a vida de São Nicolau..
Existe magia quando potenciamos a imaginação da criança que vivencia o Natal a partir dela própria e assim a desenvolver todo o seu Ser (humano e espiritual).
Temos sempre a possibilidade de continuarmos a fazer tudo igual da forma como vivenciamos durante a nossa vida mas se acreditamos numa Nova Humanidade a partir da criança, é nosso dever fazer diferente. Mostrar-lhes novas formas de celebrar o Natal…
Vamos a tempo de fazer diferente este ano… Um ano que foi diferente em tudo!
Aceitas o convite?